António Vilarigues não entrou na clandestinidade. Nasceu na clandestinidade, fruto das circunstâncias dos pais, Alda Nogueira e Sérgio Vilarigues, dois históricos do Partido Comunista Português, que então viviam sob outras identidades. Foi assim que passou os primeiros quatro anos de vida, até que um incidente com jornais Avante clandestinos, com os quais queria brincar, obrigou os pais a decidir que seria melhor que António, hoje com 70 anos, fosse viver com a avó materna.
Só anos depois saberia o seu verdadeiro apelido: Vilarigues, nome que lhe passou o pai, o homem que mais tempo passou na clandestinidade. Foram 32 anos, depois de passagens pelas piores prisões do regime, incluindo o Tarrafal.
António cresceu, tornou-se militante do partido, juntou-se com a então companheira, Lígia Calapez Gomes, com quem foi forçado a passar novamente à clandestinidade, em 1971, depois de ambos terem escapado a uma vaga de prisões da PIDE. A revolução apanha o casal numa casa nos Carvalhos, em Gaia, onde imprimiam comunicados a apelar à greve no 1º de Maio. “Só nos apercebemos do 25 de Abril às 13h30 da tarde, porque as rádios no Norte não estavam a transmitir”, diz. A Renascença passava então uma música anti-imperialista do cantor argentino Atahualpa Yupanqui. Foi essa a sua senha.
Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha para acompanhar neste mês de Abril e até ao Primeiro de Maio. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.
See omnystudio.com/listener for privacy information.